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Bons shows e falhas de logística marcam estreia do The Town

Por Rodrigo Ortega, Ana Lourenço, Danilo Casaletti, Julio Maria, Dora Guerra, André Carlos Zorzi e Carla Menezes

 

Ninguém disse que produzir o “Rock in Rio paulista” seria fácil – mas também não precisava ser tão difícil. O primeiro fim de semana do The Town, realizado no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, teve algumas surpresas, shows empolgantes e muitos perrengues. O evento continua nos dias 7, 9 e 10, com propostas variadas; o famoso “tem para todos os gostos”.

 

O setor artístico foi, sem dúvida, melhor do que o logístico. Nos palcos principais, a lista dos bons shows tem muito mais opções que a dos fracassos – e espera-se que as próximas apresentações repitam o êxito deste fim de semana. Por isso, depois de dias de climas opostos, ainda é difícil cravar o saldo final do evento.

 

Primeiro dia

 

No sábado, 2, encontros de Demi Lovato com Luísa Sonza e de Post Malone com um fã brasileiro chamado Daniel, cunhado de Sasha Meneghel, foram destaque. Fora dele, uma chuva inclemente, problemas na entrada e no transporte, além de show de luzes anticlimático, descrito como histórico, foram notas negativas.

 

O evento, que esperava 100 mil pessoas, teve suas vendas esgotadas, segundo a organização. No caminho, fãs já encontraram problemas, como trens lotados e atrasos na entrada. Já à noite, o Autódromo ficou sob forte chuva durante os principais shows.

 

Apesar dos problemas, os palcos inspirados na cidade de São Paulo receberam apresentações empolgantes. Além de Post Malone e Demi Lovato, o melhor do dia foram shows de funk e rap, de novos ídolos como MC Hariel e Tasha & Tracie a ícones como Racionais MCs.

 

Dentro do Autódromo, o maior problema foram os trechos alagados e enlameados. O evento parecia até bem estruturado, usando bem o espaço de Interlagos, com palcos principais menos afastados. Mas a lama foi muita em vários locais – seria difícil fugir dela com tanta chuva e com trechos gramados.

 

Segundo dia

 

Ao contrário do Rock in Rio 2022, atrapalhado por caixas com volume baixo, o The Town teve som poderoso. Apesar da estreia conturbada, o megafestival teve um segundo dia mais tranquilo no domingo, 3 – contando, claro, com a ajuda dos céus. Ainda houve reclamações sobre transporte e filas, mas menos do que no sábado. Novamente, 100 mil pessoas passaram pelo Autódromo de Interlagos – mas, ao contrário de sábado, os ingressos se esgotaram mais rapidamente, de olho no show de Bruno Mars.

 

Em contraponto com um sábado lamacento, o domingo ofereceu sol ardido ao público dos primeiros artistas, Matuê e Luísa Sonza – choveu pouco à noite, mas incomparavelmente menos do que no dia anterior. Os brasileiros foram espécies de headliners à parte, com lotação e estrutura dignas de artistas internacionais. Ney Matogrosso fez um show menos político, com excelência vocal. Alok garantiu um espetáculo de lasers vertiginoso, impossível de ignorar.

 

Já no início da noite, Bebe Rexha tentou fazer um show marcante de todas as formas, dando até beijo na boca de Luísa Sonza. Leon Bridges e Seu Jorge não precisaram de tantos artifícios para fazer ótimos shows classudos de soul e samba. O dia foi dos brasileiros, mas o americano Bruno Mars fez a noite. Foi dele o melhor show do The Town até agora – e deve repetir o feito no domingo, 10, quando volta ao palco principal do megafestival.

 

Ainda maior do que era há seis anos, quando esteve no Brasil pela última vez, Bruno Mars chegou validado por superlativos: único artista escalado duas vezes e em dias nobres para a temporada; maior cachê já pago pelo empresário Roberto Medina e atração que mais rapidamente esgotou ingressos.

 

O grande show de “Bruninho”, como ele mesmo se chamou, em português, ainda teve uma surpresa. Mars toca ao piano Evidências, famosa com Chitãozinho e Xororó, e deixa a plateia cantar. Termina a longa sessão solo e chama a banda de novo para Locked Out of Heaven e Just The Way You Are. Ele volta e finaliza com Uptown Funk! Livre para fazer o que bem entender, Mars é um dos grandes artistas de sua geração.

 

Os melhores

 

Além de Bruno Mars, Post Malone foi outro destaque do primeiro fim de semana. Ele trouxe uma grande banda, com um baterista gigante, violinista, violoncelista, guitarras e baixo. Post fala bastante com o público e abusa de seu carisma. É bom de palco, talvez até mais do que de repertório.

 

O rapper cearense Matuê fez a melhor apresentação entre os brasileiros, com o show Matuê Convida o Nordeste. O show e a resposta da plateia mostram que o rapper poderia estar no palco Skyline, dedicado aos headliners do festival. Além dele, Ney Matogrosso levou ao palco parte do show Bloco na Rua, lançado em 2019 e retomado após a pandemia. Ney, aos 82 anos, canta músicas como Sangue Latino e Pavão Misterioso, em um roteiro amadurecido no qual o cantor pode mostrar o que gosta de fazer: cantar com excelência vocal.

 

Depois uma estreia fenomenal com seu último álbum, Escândalo Íntimo – no Spotify, ultrapassou 8 milhões de streamings em 13 horas -, Luísa Sonza fez um show digno de fechar festivais. A lotação do gramado do palco Skyline provava isso. A mensagem que fica é que depois de um ano no qual pôde explorar traumas, amores, e inspirações, Luisa se abraçou, com todas as facetas. Por isso é tão notável sua evolução.

 

*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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