O café, para além da xícara, é uma bebida afetiva, agregadora e capaz de proporcionar momentos de conexão. Seu aroma envolvente e sabor reconfortante fazem dele um ritual indispensável para muitas pessoas começarem o dia com energia. No entanto, o café vai além do prazer sensorial: sua relação com o corpo exige cuidado. Especialistas alertam que o consumo inadequado pode gerar o efeito contrário, contribuindo para a fadiga ao longo do dia. Dados do site Medinet Bogotá mostram que 90% das pessoas acordam cansadas por não consumir café de forma correta.
Segundo a pesquisa, o café é amplamente reconhecido por seu efeito estimulante, mas entender como ele age no corpo é essencial. A cafeína, principal componente ativo da bebida, atua no sistema nervoso central, promovendo um aumento no estado de alerta e ajudando a combater a sonolência. Contudo, ela também impacta o sistema cardiovascular, elevando a frequência cardíaca e a pressão arterial.
“A cafeína tem uma meia-vida de quatro a nove horas, ou seja, pode levar esse tempo para ser completamente metabolizada pelo organismo”, explicam os especialistas. “Se você toma café às 15h, a cafeína pode ainda estar no seu corpo à meia-noite, dificultando o sono”.
Para aproveitar os benefícios da bebida de maneira plena, é fundamental entender qual tipo de café está sendo consumido. De acordo com Sulayne Shiratori, barista, consultora e instrutora de cafés, um bom entendimento sobre as diferenças entre o café tradicional e o café especial pode mudar a forma como a bebida impacta a saúde.
“Se estamos falando do café tradicional, é importante entender que ele possui muitos defeitos”, explica Sulayne. Segundo a especialista, esse tipo de café, comumente encontrado em garrafas térmicas em repartições públicas e escritórios, é caracterizado por uma torra excessivamente escura e, muitas vezes, uma fermentação indesejada, o que o torna mais barato, mas também menos saboroso e saudável.
Para ilustrar melhor a classificação dos cafés, ela usa a analogia de uma pirâmide. “Na base da pirâmide está o café tradicional, com maior número de defeitos e sabor mais amargo”, explica a barista. Este café, ao ser consumido em excesso, pode trazer sérias consequências à saúde. O consumo contínuo do café oxidado, como o encontrado em garrafas térmicas, pode contribuir para problemas como refluxo, agravamento de gastrite, além de acelerar o ritmo cardíaco e causar tremores devido ao seu alto teor de cafeína. “Esse café pode impactar diretamente no sistema digestivo e no coração”, alerta a especialista.
Por outro lado, o café especial, que ocupa o topo da pirâmide, é considerado uma opção muito mais benéfica à saúde. Este tipo de café, com uma pontuação superior a 80 pontos, é cuidadosamente produzido desde o campo até a xícara, e é equilibrado em termos de torra e composição. “O café especial é muito mais do que uma bebida, é um alimento benéfico para a saúde. Ele contém menos cafeína, não causa refluxo ou gastrite e, ao contrário do café tradicional, pode estimular o sistema nervoso central de forma positiva, auxiliando na cognição, aprendizado e memória”, explica. Ainda de acordo com a especialista, o café especial é conhecido por acelerar o metabolismo e melhorar o desempenho físico e mental, sendo amplamente utilizado por estudantes, profissionais e atletas.
Sulayne explica que, embora o café especial seja amplamente benéfico, o consumo excessivo pode levar a efeitos indesejados, como agitação, insônia e aumento da frequência cardíaca, especialmente para quem tem maior sensibilidade à cafeína. No entanto, dentro de uma rotina equilibrada, o café especial é um excelente aliado na alimentação diária.
Como escolher e preparar o café de forma correta
Sulayne Shiratori explica que para que um café seja considerado especial, ele precisa ser analisado por profissionais certificados da Associação Internacional de Cafés Especiais (SCA), e receber uma pontuação superior a 80 pontos. “Um café especial é resultado de um processo meticuloso que começa no campo, onde o fruto é escolhido com rigor e passa por etapas cuidadosas de beneficiamento até chegar à xícara”, explica a especialista. Não são permitidos frutos verdes ou podres, o que garante um produto de qualidade superior.
Ao escolher o café, é fundamental priorizar o grão inteiro. Shiratori afirma que comprar café moído pode acelerar o processo de oxidação, prejudicando o sabor e o aroma. “Moer o café na hora do preparo garante uma bebida mais fresca e saborosa, assim como esprememos uma laranja na hora de fazer suco”. Além disso, a torra do café é um fator crucial. A torra clara, com um tom de chocolate, oferece uma bebida equilibrada, com corpo, doçura e acidez. Já as torras escuras, comuns no café tradicional, são usadas para esconder defeitos do grão e não resultam em um sabor tão refinado.
A especialista explica que os cafés especiais são ricos em compostos sensoriais que oferecem uma experiência única, sendo possível identificar notas de chocolate, caramelo, baunilha, amêndoa, entre outras, dependendo do perfil do café. Para os dias quentes, a barista sugere preparar cafés frutados ou de torra clara, que se adaptam bem aos preparos gelados. No entanto, os cafés com notas mais exóticas, como os fermentados ou florais, devem ser consumidos com moderação, pois podem ser enjoativos no dia a dia.
Outro ponto importante é o preparo. Para garantir a melhor experiência, o café deve ser consumido logo após o preparo, pois, ao ser armazenado, começa a oxidar e perder sabor. “Se for colocar o café na garrafa térmica, não o consuma após 30 minutos, pois ele estará oxidado, o que resulta em um sabor amargo e desagradável”, alerta. Além disso, a especialista destaca que a água utilizada no preparo deve ser de boa qualidade, sem cloro, que pode prejudicar o sabor do café.
Por fim, a especialista faz uma analogia importante: assim como escolhemos frutas frescas e de boa qualidade, o café também deve ser visto como um alimento e escolhido com cuidado. “Escolher o seu café especial é uma decisão que impacta diretamente na qualidade da bebida e, consequentemente, na sua saúde. Não devemos optar por cafés de baixa qualidade, assim como não escolhemos frutas podres no supermercado”, pontua.