Romy é uma mulher de sucesso. Além de ser CEO da sua própria empresa, vê-se que ela é admirada e respeitada pelo simples fato de ser uma executiva famosa e influente no mundo corporativo. É seguindo essa linha de análise que escrevo aqui minha crítica do filme Babygirl.
Até os dias de hoje, em pleno ano 2025 D.C., o fato de uma mulher ocupar um alto posto, na condição de comando, ainda é motivo de enaltecimento e admiração. Fosse um homem em igual situação, este seria admirado, não pelo fato de ser um homem em lugar de destaque, mas por sua competência, foco, ambição e uma série de outros valores.
Nossa sociedade, até hoje, ainda mantém um olhar enviesado para essa mulher que tenta conciliar as funções de dona de casa com a de uma executiva. E esse mesmo olhar passa a ser crítico (e na maioria das vezes, acusatório) se essa mulher se envolve amorosamente com algum funcionário que trabalhe diretamente subordinado a ela.
Se em iguais circunstâncias se encontrasse um homem, este até poderia ser condenado por seus atos, porém nunca seria levado em questão a gravidade do acontecido, pelo simples fato de ele ser um homem.
Pois o roteiro de Babygirl é justamente este: Romy, uma executiva poderosa, coloca a carreira e a família em risco quando envolve-se num caso tórrido com seu estagiário, um homem muito mais jovem.
A direção de Halina Reijn (ela também é a roteirista) é precisa e minuciosa, ao conduzir a narrativa, quase que exclusivamente voltada para as ações de sua protagonista.
Nós, espectadores, tornamo-nos verdadeiros voyeurs das ações e sentimentos de Romy que, aos poucos, tropeça de sua posição de absoluto poder, para um estado de insegurança e submissão.
Nicole Kidman – que concorre à indicação ao Oscar de Melhor Atriz, entrega-se com toda força de seu talento à interpretação desse personagem, rico em suas várias camadas, seja na relação com o poder, seja em circunstâncias de extrema dependência física e psicológica (com o amante, o marido e os filhos), mas sobretudo, ao lidar com o provável julgamento de seus subordinados.
Todos os detalhes de sua atuação não seria possível sem a interpretação contundente de Harris Dickinson, como o estagiário Samuel, que com jogos psicológicos e cruéis, seduz e domina sua “presa”.
Babygirl vem classificado como um thriller erótico. Porém, não vá ao cinema esperando assistir um filme focado no erotismo. Babygirl está muito mais próximo de um autêntico estudo do comportamento humano, de seus personagens e suas várias camadas.