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Soto, ícone da arte cinética, é celebrado em duas exposições

O venezuelano Jesús Rafael Soto, nascido em 1923 e morto em 2005, nome histórico do movimento de arte cinética que marcou a Europa nos anos 1950, conquistou a atenção do marchand Flávio Cohn na última das cinco bienais de São Paulo de que participou, em 1996. Mais jovem e impetuoso, Flávio tomou coragem, visitou seu estúdio em Caracas e convidou Soto para realizar uma individual na galeria do pai, a Dan, em maio de 2002. 

 

Neste sábado, 15 de abril, comemorando o centenário de nascimento do artista, Cohn abre duas exposições simultâneas nas galerias da família, a Dan Contemporânea, no Itaim Bibi, e a Dan do Jardim América. Uma terceira mostra presta também tributo ao gênio de Soto, na Galeria Raquel Arnaud, que homenageia igualmente os 100 anos de outro artista cinético venezuelano, Cruz-Diez.

 

Retrospectiva

Para a exposição retrospectiva da nova sede da Dan Galeria, que comemora 50 anos, ficaram reservados os trabalhos de maior porte, inclusive um “penetrável” amarelo – obra de fios translúcidos e suspensos que inspirou Hélio Oiticica a realizar seus ambientes transitáveis nos anos 1960 – os dois trocaram correspondência sobre as respectivas instalações. São ao todo 30 obras de vários períodos, dos anos 1970 até a última, Ambivalência, de 2002, na Dan Galeria do Itaim e outras 12 na Dan do Jardim América, dirigida por seu fundador, Peter Cohn.

 

As obras expostas nas duas galerias vieram de Paris e Miami. A Dan Galeria representa o espólio do artista. “Chegamos a selecionar obras dos anos 1950, mas a taxa de passagem que a alfândega cobra desestimulou a escolha”, conta Flávio Cohn. O preço internacional das obras de Soto oscila hoje entre € 400 mil e € 500 mil, o que justifica a desistência das obras históricas – as primeiras, da época em que participou da pioneira exposição de arte cinética, Mouvements (1955), na Galeria Denise René, em Paris, ultrapassam – e muito – esse teto.

 

A Dan Galeria tem direcionado suas mostras para artistas históricos ligados, de alguma forma, à tradição cinética ou ao movimento concreto. “Estamos conectados a uma tradição da Bauhaus e da Escola de Ulm”, resume Flávio, citando artistas como François Morellet, Francisco Sobrino e Almir Mavigner.

 

Ritmo

No caso particular de Jesús Soto, que foi para Paris nos anos 1950 com uma bolsa de estudos, a tendência abstrata o levou a desenvolver obras cinéticas que adotavam padrões de sobreposição, traduzindo na prática as teorias do pintor Albert Gleizes, pioneiro estudioso do cubismo. Gleizes defendia a necessidade do ritmo na arte, sugerindo que as figuras deveriam interagir umas com as outras, conduzindo o espectador a crer que elas se movem. Soto foi intérprete dessa teoria.

 

A repetição de elementos formais na obra de Soto, aliada ao conceito de vibração, levou o artista a tirar o espectador da passividade, transformando sua experiência num ato de participação – e não só por causa das instalações “penetráveis”, mas especialmente pela questão rítmica. Esse elemento Soto foi buscar na música serial – Soto tocava violão. 

 

As primeiras obras baseadas na repetição e progressão são de 1951, época de sua chegada a Paris. A serialização foi o começo de uma experiência que o levou da pintura para a tridimensionalidade.

 

O deslocamento do espectador diante da obra, que sugere o movimento das peças, é um exemplo de interação que difere radicalmente das emoções baratas das mostras imersivas em moda. “A sua era uma investigação para descobrir, não para iludir, como Vasarely fazia e se faz hoje”, conclui o veterano Peter Cohn.

 

Foi a convivência com a arte cinética dos venezuelanos Jesús Soto e Carlos Cruz-Diez que fez a marchande Raquel Arnaud organizar a exposição A Arte Cinética – Passado e Presente, em cartaz até 6 de maio em sua galeria, localizada na (Rua Fidalga, 125, Vila Madalena, em São Paulo.

 

Raquel Arnaud foi pioneira ao trazer para o Brasil obras de Soto e Cruz-Diez há mais de 40 anos. Fiel ao time de cinéticos e aos artistas do construtivismo, a marchande organizou a mostra atual, segundo ela, para criar um diálogo entre artistas de várias gerações, dos veteranos citados a jovens artistas que levam para a frente a tradição cinética – entre eles, o argentino Felipe Pantone, que cresceu na Espanha e transita com cores fortes entre o grafite e a alta tecnologia.

 

A exposição tem obras de Pantone e do venezuelano Elias Crespin, até então conhecido como neto de Gego, Gertrud Louise Goldschmidt, e agora marcando presença em cena com um trabalho bastante original – e, em qualidade, comparável ao da avó.

 

Entre os artistas históricos reunidos na mostra estão François Morellet, o argentino Luis Tomasello, o brasileiro Sérvulo Esmeraldo e o alemão Wolfram Ulrich.

 

A paixão pela arte cinética cresceu paralelamente à amizade de Raquel com a galerista francesa Denise René, a primeira a expor os artistas dessa vertente vanguardista. “Ela manteve a mesma coerência em sua quase centenária existência e foi um modelo para mim, além de amiga.” As duas fizeram intercâmbio de artistas – Soto foi amigo de Sérgio Camargo, expoente de sua galeria.

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