As grandes celebrações de fim de ano contam com muitos fogos de artifício e músicas altas, fatores que podem prejudicar a saúde auditiva, ao afetar o ouvido interno e causar lesões das células ciliadas ou do nervo auditivo. A chamada surdez neurossensorial é classificada como a perda auditiva causada por danos ao ouvido interno, e pode ser unilateral ou bilateral.
O médico otorrinolaringologista João Vitor Bizinoto, especialista em audição, explica que sons de alta intensidade causam vibrações excessivas na membrana basilar, na cóclea, o que sobrecarrega as células ciliadas, principalmente as externas, que são responsáveis por amplificar e refinar os sinais sonoros.
A vibração intensa pode levar à deformação ou à ruptura dos estereocílios, estruturas consideradas “extensões” das células ciliadas e que são responsáveis por transformar ondas sonoras em impulsos elétricos. “Em casos severos, as células ciliadas podem ser destruídas completamente, resultando em perda auditiva irreversível, pois elas não se regeneram em humanos”, alerta o médico.
Uma pessoa que sofre de surdez neurossensorial pode experienciar diversos sintomas, como percepção reduzida de sons, principalmente de frequências agudas; dificuldade para entender conversas, mesmo em ambientes silenciosos; sensação de ouvido “tampado” ou pressão auricular; zumbido ou ruído constante; e dificuldade em tolerar sons normais, conhecida como hiperacusia.
Bizinoto ressalta que deve-se procurar um médico otorrinolaringologista imediatamente após qualquer episódio de exposição a sons intensos seguido por sintomas como os listados acima. “Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de tratamento eficaz”, afirma.
A surdez neurossensorial pode ser temporária, quando a audição retorna após algumas horas ou dias, ou permanente. “Se as células ciliadas ou o nervo auditivo forem gravemente danificados, a perda auditiva será irreversível, pois essas estruturas não se regeneram”, destaca.
Em casos agudos, o uso de corticosteróides pode reduzir a inflamação e minimizar os danos, enquanto antioxidantes e terapias emergentes estão sendo estudados para prevenir danos oxidativos. Porém, quando a perda auditiva é permanente, aparelhos auditivos ou implantes cocleares podem ajudar.
O médico relembra que mesmo pessoas sem problemas auditivos pré-existentes podem sofrer de surdez neurossensorial após exposição a sons intensos, como os gerados por fogos de artifício ou sons muito altos em festas. No entanto, aqueles que já têm a audição, podem ser mais vulneráveis devido à menor “reserva funcional” das células ciliadas.
Assim, é importante se atentar à exposição de crianças, que ainda estão com o sistema auditivo em desenvolvimento e, portanto, mais vulnerável; e de idosos, que podem ter problemas relacionados à idade agravados.
No geral, para evitar o surgimento de algum trauma acústico, deve-se evitar a proximidade com fogos de artifício ou caixas de som muito potentes, usar protetores auriculares em locais ruidosos, garantir intervalos de descanso auditivo em eventos prolongados, e reduzir o volume de fones de ouvido ou sons no dia a dia. “A prevenção é a melhor estratégia, pois danos às células do ouvido interno são, na maioria das vezes, irreversíveis”, conclui João Vitor Bizinoto.
*André Braga é médico clínico-geral e atual diretor de relações institucionais do Grupo Santa. Possui especializações nas áreas de pneumologia e dermatologia.