GPS Brasília comscore

Antônio Geraldo: Como podemos ajudar uma pessoa enlutada?

Publicado: Atualizado:

A morte de uma pessoa que amamos ou que conhecemos pode ser uma experiência difícil e até devastadora. Quando a causa é um suicídio, a experiência se torna ainda mais complexa e pode ser mais difícil. O luto gerado por essa perda pode ser intensificado por sentimentos de culpa e responsabilidade. Muitos enlutados se perguntam incessantemente se poderiam ter feito algo para evitar a morte.

Estudos indicam que o luto por suicídio afeta muitas pessoas próximas, desde familiares, amigos, colegas de trabalho e até outras pessoas do convívio. Este luto tende a ser diferente de outras formas de luto. Cada pessoa reage de forma distinta nesses momentos. Cada vivência é diferente. Há pessoas que levam mais tempo do que outras para processar a perda. Não há um prazo determinado para o processo de luto.

É comum que os enlutados sintam que poderiam ter feito algo diferente para evitar um desfecho trágico. Outros sentem a necessidade de entender por que isso aconteceu, pensando o tempo todo nos comportamentos e eventos anteriores à perda. Muitos sobreviventes sentem uma responsabilidade pela morte do ente querido, mesmo que não haja fundamento real para isso.

O medo do julgamento de outras pessoas pode fazer com que o enlutado tenha dificuldades em compartilhar sentimentos, se isole e deixe de fazer atividades que antes eram prazerosas.

Há um estigma social e muito preconceito quando o assunto é o comportamento suicida. Isso acontece porque as pessoas não sabem que esse comportamento pode ser causado por uma doença que tem tratamento. O suicídio pode ser prevenido. O suicídio é multifatorial, envolve fatores biológicos, psicológicos, sociais e espirituais. Nem sempre está ligado a eventos isolados. Praticamente 100% das pessoas que tiveram óbito por suicídio tinham alguma doença mental, diagnosticada ou não.

Como ajudar uma pessoa enlutada?

A posvenção é um conjunto de cuidados voltados às pessoas impactadas pelo suicídio de alguém, ajudando-as a lidar com as suas emoções em relação à perda. O principal objetivo é oferecer alívio diante do sofrimento, prevenir complicações no luto e minimizar o risco de comportamentos suicidas entre os enlutados.

Ouça o que a pessoa tem a dizer. Deixe que ela se sinta confortável para expressar os seus sentimentos sem medo de julgamento. Às vezes, o simples ato de ouvir é o que mais ajuda e traz conforto. Seja acolhedor e empático neste momento difícil. Respeite a necessidade de espaço e momentos de silêncio.

Encoraje a pessoa a participar de grupos de apoio para sobreviventes de suicídio e compartilhar experiências com pessoas que passaram por situações semelhantes pode trazer conforto.

Incentive a pessoa a buscar um serviço de saúde e conversar com um especialista. A psicoterapia pode ajudar a processar o luto e lidar com o turbilhão de emoções que surgem nesse momento. A posvenção propicia ferramentas para que os enlutados possam processar as experiências vivenciadas e tenham suporte em um momento difícil. Cuidar da saúde mental dos que ficam é fundamental e precisamos falar mais sobre isso.

Se precisar, peça ajuda!

 

*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG. Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL.

Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais. Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia. É autor de dezenas de livros e artigos científicos em revistas internacionais e também palestrante nacional e internacional.

 

Veja também

Entre as principais características do TPB estão a instabilidade emocional …

Neles desnudava-se o desejo de um homem, não mais a …

GPS Brasília é um portal de notícias completo, com cobertura dos assuntos mais relevantes, reportagens especiais, entrevistas exclusivas e interação com a audiência e com uma atenção especial para os interesses de Brasília.

Edição 41

Siga o GPS

Newsletter

@2024 – Todos os direitos reservados.

Site por: Código 1 TI