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NYFW: 6 marcas ‘fora do eixo’ para ficar de olho

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_Start spreading the news!_ A semana de moda nova-iorquina mal chegou, já acabou. No Brasil, ofuscada pela megalomania do nosso [Baile da Vogue](https://gpslifetime.com.br/materia/voce-view-o-baile-da-vogue-e-a-moda-na-era-do-like). Nos EUA, menos hypada que muitas de suas precedentes edições.

No circuito internacional, a atenção já deslocou para a irmã londrina, seu primeiro dia homenageando a eterna Vivienne Westwood. **Mas sem choro!** Há sim muito o que se admirar nesse recorte de moda norte-americana, e para isso, é recomendável **sair da caixinha**.

Relembrando tudo que rolou durante o evento, a coluna destaca **6 marcas** além da tríade Herrera-Jacobs-Kors que, não tão familiares ao público ‘fora da bolha’, merecem a nossa **atenção**.

**Thom Browne**

Uma abordagem fantasiosa à alfaiataria é lei no universo dicotômico de **Thom Browne. _Como fazer a roupa social ter sonho?_** É uma pergunta que o designer estadunidense responde temporada sim, temporada também. Para seu **Fall 2023**, o estilista de verve lúdica encontrou na flor da infância a inspiração para os 64 looks desfilados: de Saint-Exupéry, o imperecível **_Pequeno Príncipe_** foi a pauta da vez.

![](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1479_52410d49f9.JPG)
![Da nave pilotada pelo Pequeno Príncipe à imagem do próprio (com seu icônico loiro espetado, até!), passando pelos seis planetas que foram por ele visitados, Browne abriu seu show com uma interpretação para lá de literal dos elementos da obra](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1480_ef747b975c.JPG)

Desfilado em meio à queda do monomotor do nosso herói, ao som de citações proferidas sobre a música de fundo (“O essêncial é invisível aos olhos” nunca deixa de arrepiar), o show forçava o espectador a deixar o carão em casa e admirar o show com **deslumbre de criança**.

Dividida em duas partes, a apresentação tinha como narrativa principal a inevitável separação que se dá em meio ao fenômeno do ‘crescer’: **o colorido da infância se perde ao longo da vida adulta**, dividindo o mundo entre **jovens imaginativos** (aqui representados em peças brancas com desenhos de múltiplos tons, como páginas em um livro para colorir) e **adultos ‘quadradões’** (trajados em ternos de silhueta ‘boxy’, com exageradas ombreiras e misturas de paisley com xadrez). Toda a cena parece algo saído da mente de tipos como Dr. Seuss ou Tim Burton.

![Com as cabeças encapsulada por aros dourados, os “adultos” de Thom Browne cruzam a passarela condenando a falta de imaginação e, numa representação bastante explícita, a mente pequena](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1481_59db86ce25.JPG)

![Em tempo: seriam os relógios cravados em maletas e sapatos uma representação da ansiedade workaholic e ocupação que acompanham a maturidade?](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1482_2e664a6bde.JPG)

![A raposa veio! Pinturas no rosto, orelhas cónicas feitas de cabelo e uma paleta com toques de vermelho sinalizam que a leal amiga do Pequeno Príncipe não foi esquecida na história](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1445_50dc0c42fc.JPG)

Divisão, contudo, é palavra que raras vezes se encaixa no espectro **Thom Browne**. Andrógino como poucos, descarta as noções de feminino e masculino em peças provocativas que subvertem o conceito de género _“Meu olho já não enxerga mais homens e mulheres, **vejo apenas um único e belo mundo**”_, confessou à Vogue. Na filosofia e no design, detecta-se um dedo da já mencionada Vivienne Westwood — mas não se engane! Mesmo aludindo aos grandes, Thom escreve história no mercado em **cores fortes e indeléveis**, ainda que sua marca-registrada seja esse nunca-monótono tom de **cinza**.

**Collina Strada**

**O que divide homem e bicho? Além do intelecto, o que separa?** Quais conjuntos de características anatómicas, cognitivas e espirituais despregam do homo sapiens a qualidade de **animal**? Transformados em caninos e roedores, cervos e golfinhos, os modelos da **Collina Strada** protagonizaram o mais próximo que a **NYFW** chegou de um **‘momento viral’**, e estimularam uma discussão sobre **diversidade, natureza humana, consciência ecológica e o lugar da moda nesse _rendezvous_**.

Curiosamente, enquanto desenhava, o foco de Hillary Taymour estava distante de tudo isso: com a mente na periclitante **economia mundial**, a diretora criativa queria, mais que nada, lançar uma coleção que **durasse**. Só isso. Uma coleção que o cliente ‘da recessão’ encontrasse **sentido em comprar**.

![O bicho pega: próteses com imagens de animais garantiram o fator-viral da apresentação](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1487_ab78402e15.JPG)

![Diversão e diversidade: advogando pela igualdade, as minorias foram maioria no catwalk de Collina](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1484_b637d66c09.JPG)

E esse sentido está em peças **únicas, afetivas**, com _prints_ e imagens faunísticas operando como um lembrete de que **a natureza é o melhor investimento**. Favorecem a construção de camadas, saindo do verão para criar um inverno rico em **transparência, assimetria** e **cor**. Apostam, ainda, em clássicos como o **_tartan_** e o **_patchwork_**, explorados de maneira **contemporânea** e **jovem**. **Prova de que o perene em nada precisa ser básico. **

Se a linha apresentasse, contudo, um design verdadeiramente simples, seria possível argumentar que o jogo de cena animalesco teria entrado para ‘apimentar’ o show. Contudo, cada look supera o anterior em matéria de exuberância, com cores e texturas e estampas e misturas. Para o consumidor Collina, que sofre os impactos do colapso econômico como qualquer ser de carne e osso, **talvez dopamina seja um remédio mais potente que a contenção**.

**Adeam**

**Há um aroma diferente por aqui!** Previamente reconhecida por sua moda clássica e juvenil — peças saídas de um episódio de _Gossip Girl_ para a típica garota americana —, Adeam se posicionava perto de Oscar de la Renta, Ralph Lauren, e até da australiana Zimmermann quando o assunto era estética — **mas não nesse inverno**.

Uma muito bem-vinda nuvem cinzenta pairou por cima de **Hanako Maeda**, fundadora da casa, e escureceu o que antes era ensolarado, entregando a aura melancólica de um romantismo gótico à menina-Adeam.

![Gótico, vitoriano, sombrio e deveras romântico, o Fall 2023 da grife Adeam demonstra o quão gracioso pode ser o melodrama](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1525_2da24c3883.JPG)

Não que a leveza e a fluidez tenham sido esquecidas por completo — **longe disso**! Ganharam carácter maduro e complexo com tonalidades fechadas, longas luvas de ópera e couro, bastante couro. Culpa da principal referência eleita por Maeda, responsável por esse súbito _change of heart_: **a música**.
Inspirada pela cultura e pelo som que consumia em sua juventude, a estilista se debruçou sobre as letras de **Blink 182** e **Green Day** para dar a luz a uma coleção que resgata o final dos anos 1990, início dos 2000. E se a primeira porção de looks tem a sonoridade de **Evanescence**, os vocais de Tom DeLonge e Billy Joe Armstrong se fazem ouvidos nas **camisas de flanela** e **_sweaters_ rasgados** que fecharam a apresentação.

![American idiot: pop-punk, gritaria e rebeldia sem causa não faltaram a aula](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1526_6714c0e8f4.JPG)

Distante do convencional, a temática escolhida empresta um senso de **maturidade** à cara da casa, irônico como esse paralelo possa vir a soar. Mas afinal, **a vontade de se apegar à juventude só cai sobre quem, de modo ou de outro, já se sente distante dela**. O saudosismo dos dias de glória é brinde amargo: _pinta as lembranças com um tom prazeroso de dor_.
Talvez nem tenha percebido que o desenrolar de sua linha contava uma história: **_“Ele era punk e era fazia balé”_**, como Avril Lavigne, contemporânea em tudo isso, cantou em **_Sk8er Boi_. Música para (quase) qualquer ouvido, de (quase) qualquer idade**.

**Anna Sui**

**Lembrança de um tempo bom é o denominador comum em voga**, e para **Anna Sui**, isso significa um período de farra e fama perdido na segunda metade do século XX. Com influências de Miu Miu e Rodarte, Sui entregou uma visão atual sobre a década de **1960**.

![Festa do pijama: boudoir e glamour se chocam numa explosão de romantismo](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1517_b77791eb7a.JPG)

Sua viagem ao tempo pousou no **Peppermint Lounge**, restaurante nova-iorquino que durante o governo Kennedy imperou como **‘mais badalado _hotspot_ do mundo’**. Era favorito da primeira-dama, era queridíssimo dos jovens e descolados, era histórico — e uma história e tanto para se contar em apenas 26 produções. Com tons de neon, um _lounge-wear_ atrevido e muito glamour, Anna conseguiu.

![Do flower power à silhueta mod, ícones dos anos 1960 são lembrados em sentidos nada óbvios](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1518_aa32c65b69.JPG)

Sem clichês nem estereótipos, a linha consegue traduzir **silhuetas do passado para o consumidor de hoje**. Conjuntos de _tweed_ ‘da vovó’ perdem o tédio perto de _beanies_ em formato de coelho — um aceno ao ano novo chinês —. Rendas e bordados se encontram numa sensualidade glamurosa. Flores de todas as formas se transformam em estampas com ‘quê’ abstrato. Teve até bota cowboy…

Em toda a ‘mistureba’, a grife consegue preservar os códigos das **ruas orientais**, da moda de Tokyo, Shanghai e Seoul. O impulso criativo, divertido, lúdico… a **magia e o desejo**. _Sui generis_.

**Sandy Liang**

**A menina-moleca de Sandy Liang é um sonho**. Ela joga basquete e limpa as mãos em seu vestido de USD 500. Ela gosta de laços em grandes casacos estilo puffer. Ela é inocente e sensual e alinhada com as tendências. **Ela é o que todas as outras meninas querem ser**.

Em seu **Fall 2023**, a designer Sandy Liang poderia ter tentado, mas não teria conseguido. ser mais exata em representar o comportamento fashion da nova-iorquina de 20-e-pouquinhos-anos. Com elementos dos universos **bailarino, utilitário, colegial, boêmio** e **gótico**, (basta!) a estilista acrescentou todos os ingredientes de uma linha comercialmente desejável à panela, esperou o tempo certo, temperou a gosto e serviu-nos um banquete ultra-palatável, que promete voar das prateleiras e se fazer notado nas redes.

![](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1485_19f03b94f2.JPG)
![De modo coeso e sintônico, Sandy Liang aborda os modismos da temporada sem cair nas armadilhas da moda datada](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_1486_be6010968c.JPG)

Junte as peças, são um recorte perfeito d’o que a garota descolada quer usar’. Separe-as, são itens de design imortal que não se farão descartados quando a nova obsessão da moda vir à tona. **E é assim que se faz uma linha de sucesso**.

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