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Arquitetura brasiliense na grandeza de um sonho

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Discutir **Brasília** sob uma ótica que combina as leis de tombamento, nosso amor pela cidade e os **grandes desafios** rumo a uma nova era, **tecnológica, globalizada e sustentável**. O mesmo cenário que nos revela a beleza dos largos horizontes e da arquitetura moderna nos impõe grandes **reflexões** sobre um planejamento urbano baseado na **evolução econômica** e no **equilíbrio ecológico**, de maneira a garantir a manutenção das características fundamentais que singularizam nossa capital – sem deixar de entender que se trata de uma _cidade jovem_, não concluída.

A cidade viva e aprazível de **Lucio Costa** passa, primeiramente, pelas escalas, construídas e solidificadas pelos candangos e cotidianamente vivenciadas pelos seus habitantes. Na visão de Lucio Costa, a superquadra não seria somente um lugar de morada, mas também um _lugar de “passagem”, de permanências, de encontros_. Essa questão é quase lúdica e um tanto quanto romântica.

Uma avaliação que merece ser feita é relativa aos **hábitos culturais** e **desafios sociais** que se apresentavam à época do planejamento de Brasília, como estas práticas e desafios evoluíram (ou involuíram); e o reflexo disto na vida cotidiana da população que hoje habita do **Plano Piloto**. Sem dúvida, a cidade foi planejada em uma época em que se projetava um determinado cenário futuro; com o passar dos anos, parte deste cenário não se concretizou. Temos hoje, portanto, uma população urbana que vive a realidade decorrente tanto dos aspectos positivos quanto dos aspectos negativos da projeção deste _sonho modernista_.

Esta coluna, que tenho o prazer e a honra de _assinar_ a partir de hoje no site **GPS|Lifetime** é mais que uma narrativa: é um **convite**. Uma **provocação** para que todos nós possamos perceber melhor que a _transformação dos espaços públicos_ da nossa cidade se dá mais pela ação dos indivíduos do que pelas teorias e conceitos dos técnicos e urbanistas.

Os usos temporários dos espaços vazios, espalhados pelas nossas superquadras, possibilitam em tempos de pandemia a **produção de cultura**, da **arte** e do **lazer**, a **prática de esportes**. Viabilizam e potencializam a vitalidade urbana que tanto foi desejada por Lucio Costa. As pessoas devem se apropriar do espaço urbano, de maneira a relaxar, observar, celebrar e trocar experiências nos nossos parques e jardins trazendo **vida e paixão** para a nossa cidade.

Ser **Arquiteta e Urbanista** formada em uma cidade que por si só já é prova do que o homem pode fazer e realizar quando _abraça a grandeza_ de um sonho é um privilégio. Recentemente, publiquei um [livro](https://www.riobooks.com.br/pd-84946d-o-desenho-urbano-e-o-envelhecimento-populacional.html?p=1&s=1) sobre o Desenho Urbano e o Envelhecimento Populacional, fruto de uma pesquisa ampla sobre o tema, importantíssimo na atualidade.

Já fui **professora, pesquisadora e consultora** na área de regularização fundiária urbana. Na minha prática profissional diária, procuro casar a inevitabilidade de projetar em uma cidade que tem limitações impostas pelo tombamento e pelas leis edilícias com as necessidades comuns à dinâmica incessante das grandes metrópoles – oferta de moradia digna, melhoria da mobilidade urbana e favorecimento dos modais não poluentes, boas condições de trabalho, opções de lazer acessíveis e democráticas, ruas amplas, compartilhadas e bem pavimentadas, belas e largas calçadas e muitas áreas ajardinadas.

Esta coluna vai refletir uma **opinião técnica**, mas também muito **pessoal**, sobre o que é viver em Brasília. Não consigo desassociar o lugar do lado sentimental da coisa – _é a cidade aonde meus pais vieram iniciar uma nova vida, atrás de um sonho comum a muitas famílias migrantes nos anos 1960; aqui cresci, brinquei no pilotis, estudei, frequentei a Universidade de Brasília, as festas da Arquitetura, e fiz parte da juventude “entediada” dos anos 1980; aqui formei uma família, tive um filho, escrevi um livro e plantei várias árvores; comecei minha vida profissional, fiz amigos queridos e eternos, me inspirei em várias histórias de vida, criei elos que são a base de tudo o que sou._

Combinando o que sou, com o que vivo, com o que observo e com o que aprendi, sempre com infindável curiosidade e com uma boa dose de otimismo, acredito que a cidade que Lucio Costa sonhou corresponde, de fato, à descrição do júri do concurso do Plano Piloto: _“é nova, é livre, é aberta; tem uma disciplina, mas não é rígida.”_ Não deve ser rígida. É um espaço flexível, amplo, aberto, que favorece o coletivo, feito por gente e para a gente.

Ainda acredito que a cidade é o local ideal em que se desenvolvem novas relações interpessoais; certamente, pensando na atualidade, essas relações são mais uniformes e difusas, mas **seguem contribuindo** para um novo conceito de um mundo novo, em mutação constante. Um mundo que pode ser construído conjuntamente e planejado de maneira a abrigar uma nova sociedade, mais **saudável, sustentável e equilibrada**, e, principalmente, uma sociedade justa, que valoriza o cidadão.

E é este o convite: **vamos trazer isto para nós**. _Vamos olhar para nossa cidade, com o amor e o respeito que ela merece_; compreendendo sua complexidade e sua diversidade, mas também entendendo que ela pode – e deve – evoluir, através de um processo participativo, com projetos e propostas concretas e assim avançando rumo a uma maior e melhor qualidade de vida urbana.

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