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Theodora: “Não consigo parar de pensar na semana de moda de Copenhagen; aqui está o motivo”

Com autenticidade, capital dinamarquesa é a mais cool do circuito
Reprodução

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Paris, pode ficar com o croissant. Nova York, com seus bagels. Não, Londres, obrigada, mas não queremos chá. Nem cappuccino, ouviu Milão? Rainhas, vocês foram destronadas. Levantem-se de pronto! Queremos sentar a mesa com ela. A tão-súbita favorita, a Donatella para a nossa Flora, a semana de moda de Copenhagen.

Mais divertida, mais autêntica e mais sincera que as irmãs, é a menina-rebelde que todo mundo quer copiar. É inovadora, disruptiva. Compõe a própria música e dança de acordo. (Ainda) não foi contaminada pelo vírus da ‘viralidade’, retém o sabor de uma moda feita não para bombar no Instagram e no TikTok, mas para alinhar-se com um estilo de vida muito maior que “a trend do mês”. Porque? Porque a semana de moda de Copenhagen alinha não à estética, ao buzz, ao “zunzunzun” de qual celebridade passou por lá, mas a algo maior e substancialmente esquecido: valores, princípios e filosofias. Quando foi a última vez que você viu Kim Kardashian falar sobre isso?

Gente fina, elegante e sincera: o street wear CFW é um forte indicador do sentido que a moda de rua vai seguir

Com princípios consistentemente enraizados na sustentabilidade, a CFW não existe em função da roupa pela roupa, mas da moda que habita ao redor desse propósito. Moda que assume suas responsabilidades ambientais, sociais e transformadoras, que arregaça as mangas e recebe a bola no peito: sem frear, sem se esquivar, sem fazer adversários, mas com o olho preso no gol.

Encara seus objetivos com uma abordagem holística, assumindo a incubência de estabelecer o padrão quando o assunto é desenvolvimento sustentável, seguindo desde 2019 um plano de ação para educar todos seus contribuintes, reduzir o descarte e a emissão de carbono e acelerar a causa da bandeira verde dentro do ambiente fashion.

Dito plano já está em sua segunda fase, que permanecerá em andamento até 2025. Algumas das suas atualizações incluem: disponibilidade de veículos elétricos para transporte durante toda a duração do evento; embargo na distribuição de merchandising single-use (garrafas e panfletos de plástico, por exemplo), seminários e talks sobre produção circular; e apoio apenas às marcas que seguem as rígidas diretrizes ecológicas não apenas no decurso do evento, mas sim de modo definitivo.

Em movimento: impossível visitar a Dinamarca e não esbarrar em múltiplas bicicletas, modo de transporte favorito dos dinamarqueses. No decorrer da CFW, foram disponibilizadas bikes e carros elétricos, das empresas Lime e Polestar Cars, respectivamente para a locomoção de todos os presentes
Com um menu 100% orgânico, vegano e vegetariano, o hypado café Abrikos assinou todo o cattering do evento

Em contrapartida, o olhar que vigia com severidade as regras e responsabilidades, é o mesmo que brinca com novas possibilidades do vestir. Na passarela e na rua, se vê gente feliz, que sabe tirar alegria da roupa, que inventa e evolui, que faz a seu modo. Sem forçar, sabe? Iconoclastas naturais, designs que têm pulso, pessoas que têm verdade. Se vê toda cor, toda cultura. Histórias, corpos, línguas, ideias, objetivos, dentes retos e tortos, unhas feitas e descascadas. Um coletivo, unido pelas mesmas causas, nutrido pelo banquete da própria individualidade.

Abrindo a temporada SS25 numa deliciosa manhã beira-rio, a renomadíssima ÓperaSPORT fez o que faz de melhor: peças eternas com uma “temperada” sazonal

O quão minimalista o maximalismo consegue ser? Com silhuetas limpas mas não por isso desinteressantes, Kristoffer Kongshaung, da Forza Collective, apimentou propostas clássucas com texturas, sobreposições e cores de apelo imediatista

Vencedora do prêmio Zalando de inovação, Sinéad O’Dwyer é a designer que governa a grife londrina de mesmo nome. Suas coleções destacam a beleza e singularidade do corpo, transformando a forma de quem a veste no grande protagonista. Foi, ainda, a primeira marca a desfilar uma modelo com cegueira

Vivemos a frustração de uma era onde postar que foi feito é “melhor” do que de fato fazer. Se o Insta viu valeu né? Toca para a próxima festa, o próximo restaurante, a próxima balada com escadas instagramáveis. Clicou, publicou, vazou! Deu no pé pra casa a tempo de gravar um Reels da sua rotina noturna: skin care, máscara no cabelo, chá de camomila… Olha que feed, opa, que vida balanceada! Cada respiração, cada ângulo, cada pose cirurgicamente fabricada para não parecer posada — tudo já disponível na sua timeline, para você sentir que viveu o dia que eu não vivi. Esbarrar num evento de proporção mundial que sopra a brisa da intimidade. Que tem alma, e visão, e tato e paladar… É encontrar um óasis no meio do deserto.

Inspirada na simbologia sagrada das mãos e toda a empatia, carinho e comunicação que representam, Henrik Vibskov desfilou um trabalho de estamparia do qual é impossível tirar os olhos
Sinalizada pela CFW como “one to watch”, Sol Hansdottir debutou na semana de moda escandinava com todos os holofotes nela. Numa apresentação que faz referência à relação moda-identidade na era da influência, mesclou elementos do sportwear em proporções exageradas e desconstruídas
Criada ao redor do gancho “Pela juventude, para a juventude”, a Fine Caos recusa reduzir-se a uma coisa só. Com referências western, steampunk, esportivas e utilitárias, a marca é sinônimo de irreverência e sem-vergonhismo

Subir e dar a mão para quem está escalando é a humanidade em sua forma mais bonita. A ideia de ir à luta juntos, de acreditar que o mundo é bonito e pode ser muito mais. De abrir o riso enquanto se lidera uma revolução, de fortalecer conexões que não oxidam. De falar sério, sem se levar a sério.