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Paul Gauguin ganha mostra crítica sobre sua arte com estreia em abril

O que se sabe sobre Paul Gauguin (1848-1903)? Sabe-se que ele foi um importante artista francês, exímio representante da pintura pós-impressionista. Atuou à margem das convenções pictóricas da época, usando linhas e cores como autoexpressão. E também em sua biografia consta a relação conflituosa com Van Gogh exatamente à época em que o pintor holandês cortou sua orelha e foi parar em um hospital psiquiátrico.

 

A figura emblemática de Gauguin obviamente é muito mais rica que a brevidade desta descrição. Nascido em Paris, sua avo materna era a escritora feminista Flora Tristán, cuja trajetória foi tema de romance de Mario Vargas Llosa. Pai jornalista, viajante. Ainda pequeno, Gauguin embarcou para Lima, Peru, com a família. Aos 16 anos, já era órfão de pai e mãe. Seu tutor, um fotógrafo e colecionador de arte. A partir daí, de volta a Paris depois de rodar o mundo pela Marinha francesa, foi uma questão de tempo para encontrar-se na pintura. Antes, casou-se e teve cinco filhos.

 

Essa parte da história é importante, pois o espírito livre de Gauguin e a experiência nos trópicos levou sua pintura a um imaginário para além dos padrões da cultura européia, especialmente frustrante à época em que ascendia. Tanto que especialistas consideram que Gauguin realizou no Taiti suas obras mais conhecidas, representando tanto as paisagens do lugar, como seu povo e seus costumes. E é aí que criamos uma identidade  com o artista ainda não entendida, porém revelada na exposição que desembarca no Brasil repleta de expectativas.

 

 

Paul Gauguin: o outro e eu é a primeira no Brasil a
abordar de maneira crítica os conteúdos centrais da obra do artista, com foco em dois temas emblemáticos que emergem no conjunto apresentado no MASP: os autorretratos e os trabalhos produzidos durante sua permanência no Taiti (Polinésia Francesa), que se tornaram alguns dos mais conhecidos de sua
trajetória.

 

Dentre os 40 trabalhos da exposição, dois deles pertencem ao acervo do MASP: Autorretrato (perto do Gólgota) e Pobre pescador, ambos de 1896. Os demais são empréstimos de 19 instituições internacionais de renome, como Museu d’Orsay (Paris, França), Metropolitan Museum of Art (Nova York, EUA), Getty Museum (Los Angeles, EUA), Museum of Fine Arts (Budapeste, Hungria), National Gallery e Tate (ambas em Londres, Reino Unido).

 

Em Autorretrato (perto do Gólgota), adquirido pelo MASP em 1951, o artista sintetiza e faz transcender o próprio tema do outro e eu, ao retratar-se com características semelhantes à figura de Jesus, com cabelos longos e túnica, e localizado próximo ao calvário, como enunciado no título da obra. Soma-se a esses elementos o seu perfil inca, sempre demarcado em seus autorretratos, acentuando os traços retos de seu nariz – identidade reivindicada por ele, que não se identificava como um típico artista parisiense.

 

 

Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, Fernando Oliva, curador, MASP, e Laura Cosendey, curadora assistente do MASP, a exposição reúne 40 obras, entre pinturas e gravuras, entre os dias 28 de abril a 6 de agosto, e discute de maneira crítica a relação do artista pós-impressionista com a ideia de alteridade e da exotização do outro.

 

“Sua produção desse período suscita temas como as contestadas noções de primitivismo, um imaginário sobre o ‘exótico’ e os ‘trópicos’, e apropriação cultural; além de questões relacionadas à sexualidade, androginia e erotização do corpo feminino. Apesar de muitas vezes terem sido tomadas por reproduções fiéis da Polinésia Francesa, essas obras carregam em si as fantasias que um homem branco e europeu tinha de uma região considerada paradisíaca, intocada pela civilização europeia”, analisam os curadores Fernando Oliva e Laura Cosendey.

 

 

O projeto, que inclui ainda o lançamento de um catálogo com ensaios inéditos e 151 imagens, enfrenta questões que por
muito tempo foram deixadas de lado nas exposições sobre Paul Gauguin (Paris, França, 1848 – Ilhas Marquesas, Polinésia Francesa, 1903), especialmente o modo problemático como sua obra reforçou um imaginário sobre o outro, além das tensões entre sua biografia e a imagem que criou de si. A mostra tem patrocínio master do Bradesco e patrocínio da Vivo e Mattos Filho.

 

 

SERVIÇO

Paul Gauguin: o outro e eu

 

De 28 de abril a 6 de agosto de 2023

No MASP, Avenida Paulista, 1578, São Paulo

Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos

Ingressos: R$ 60 (entrada); R$ 30 (meia-entrada)

Redação GPS

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