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GPS|Brasília conversa com o leiloeiro Fernando Pelloni; confira

Frente à Casa Amarela, o leiloeiro dá sequência ao legado da família na capital federal
Fotos: Vanessa Castro

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Escrita por Edson Caldeira

No comando desse segmento, Fernando Pelloni se apresenta com a postura de um vendedor obstinado que performa diligentemente com as palavras. Diante do quadro Zuila, de Di Cavalcanti, ele discorre sobre os bastidores do artista e da pintura, sabe exatamente a técnica usada e tem consciência do valor da mercadoria para o proprietário que arrematar a relíquia. “Eu sou leiloeiro. O que é totalmente diferente de um marchand. Eu sou apaixonado pela minha profissão porque ela não se limita apenas a obras de arte. Eu aprendo constantemente sobre novas mercadorias e valores de mercado, seja ela um imóvel, um maquinário industrial, um relógio suíço ou uma joia de grife”, explica.

Tal habilidade é considerada um legado de família. A matriarca Silvia Pelloni e o padrasto Waldir de Souza trabalham com o ramo de leilões desde 1979, época em que abriram a Casa República das Artes – que, por alusão criativa, ficava localizada na avenida República do Líbano, em São Paulo. Foi nesse tempo que Fernando teve seu primeiro vislumbre das ferramentas do ofício que não se limitava somente a números, mas também a um conhecimento criterioso e um talento para vender, apresentar-se e compreender o lado técnico de peças e objetos finos e raros.

“A primeira obra que fiquei maravilhado com o resultado do trabalho foi uma de Inimá de Paula. Comprei por R$ 18 mil e consegui vendê-la no mesmo ano por R$ 45 mil. Não tinha nada a ver com a pintura em si, que era muito abstrata, mas sim com a alegria de ter conseguido dar o start na carreira”, rememora. 

Com os leilões presenciais da época, o empresário iniciou como demonstrador de obras de arte – ou, como ele gosta de chamar, dealer. Em meados de 1985, fez seu primeiro leilão como preposto da mãe, aos 14 anos, época em que o negócio começou a se expandir. “Quando saímos da Avenida República do Líbano, fomos para a Rua Canadá, perto da Avenida Brasil. No meio de várias casas grandes encontramos uma casa amarela enorme. Como minha mãe estava com uma aura de renovação, porque o Waldir tinha falecido, ela transformou a República das Artes em Casa Amarela”, relembra. 

A empresa instalou sua sede no Jardim Paulista em 1989, onde funciona até hoje. Em 1994, chegou a Brasília, mas só em 2010 o leiloeiro faria da capital o seu lar. Além das obras de arte de valor mais expressivo, relógios e até bolsas fazem parte do casting da empresa responsável também por leiloar itens do Hotel Glória, o primeiro cinco estrelas do Rio de Janeiro, e as joias da célebre apresentadora Hebe Camargo.

O dinamismo do trabalho o fez um expert sobre obras de arte. Tanto é assim, que sua dicção lembra a de um professor de História, mas longe de ser algo entediante, ele conta curiosidades do acervo de forma instigante com a prudência de um especialista. “Obra de arte é algo sazonal. O que valia muito na década de 1980 talvez hoje não tenha tanto valor assim. O paisagismo, o impressionismo e o surrealismo de outrora deram lugar ao modernismo, ao cinético, ao concreto. Um Alfredo Volpi paisagista pode ter um valor inferior a um quadro dele mesmo que tem bandeirinhas de São João”, explica. ”Obras de arte são rentáveis desde que estejam no radar das tendências. Burle Marx no início da década de 2000 era vendido por cerca de R$ 10 mil. O mesmo quadro hoje é arrematado por R$ 300 mil”.

Atualmente, a sede da Casa Amarela em Brasília fica no Complexo Brasil 21 e o acervo conta com obras de Di Cavalcanti, Aldemir Martins, Tomie Ohtake, e muitos outros que passam por uma série rígida de avaliação feita pelo próprio Fernando. “Como perito judicial, eu dou um laudo da autenticidade da obra de arte quando há uma desconfiança. Existe uma equipe formada por diversos profissionais que atestam a veracidade dos itens. Eu posso entender muito bem sobre o mercado de relógios, mas preciso me atentar se houve alguma adulteração”, ressalta o profissional, que desde 2018 tem o título de leiloeiro no Distrito Federal. 

Fernando salienta que no Brasil existe um grande mercado interessado em objetos valiosos. A única coisa que mudou com o tempo foi a forma que os licitantes acessam os itens. Com leilões ao vivo cada vez mais migrando para o digital, o acervo da Casa Amarela passa por constantes atualizações online.

Recentemente, o empresário adicionou leilões de imóveis aos serviços. A parceria com a plataforma Bom Valor traz reconhecimento ao nome de Fernando porque o coloca lado a lado com outros clientes renomados, como Andrade Gutierrez, Bradesco e Santander. Quanto à vontade de ser um dos colecionadores, ele confessa ser mais desapegado e que a euforia está em vender experiências para novos compradores. “Eu acho que, por lidar com isso, eu adquiri um gosto muito eclético. Então, eu já tive vários Rolex, mas não me apego. Acredito que o leilão é algo democrático. É sempre alguém querendo algo que para outra pessoa já não tem tanto significado. Todos saem ganhando”.