Como diria minha querida amiga e jornalista Conceição Freitas, “Fosse um outro Brasil, uma outra Brasília, um outro tempo, o SCS seria a Champs Élysées que tanto inspirou Lúcio Costa”. Mas não foi. O sonho foi, como o próprio Costa reconheceu quando fez menção à Rodoviária do Plano Piloto, menor que a realidade, o centro é uma terra dos brasileiros de verdade, um território que reconhece as suas raízes.
E é exatamente por isso que eu sou apaixonado por esta oportunidade. Nascido e criado por aqui, cresci ouvindo como era bom passar carnaval, férias, natal em outros lugares porque Brasília não tinha nada pra fazer. Ora, se não tem, criamos. E não tem prazer maior do que fazer parte da criação da base da identidade cultural da sua comunidade.
Há ainda a disputa com aqueles mais tradicionais da cultura alheia, que acreditam que importar um prédio espelhado do exterior é mais belo que os cantos dos nossos carnavais.
Hoje, a obra arquitetônica mais complexa de Lúcio Costa, a Rodoviária do Plano Piloto, está passando pelo processo de concessão, como aconteceu com o aeroporto. Eu aposto que o brasiliense de verdade prefere o trio (2 pastéis e 1 caldo de cana) da Viçosa ao café de cinco dólares da Starbucks.
A grande surpresa não está na Rodoviária, a concessão envolve também espaços públicos do CONIC e as lojas da Galeria dos Estados. Ambos funcionam muito bem e ainda representam o choque cultural que originou a nossa cidade. Quando a Galeria dos Estados foi criada, cada loja pertencente a ela comercializava produtos de um estado brasileiro, a Alvorada Cearense ainda está lá para guardar essa lembrança.
Uma coisa é certa, nunca na história da humanidade nenhuma ocupação que não respeitou a memória do território ocupado deu certo. Dialogar com quem está zelando pelo local é essencial. Cuidar das raízes é o básico para qualquer cultivo.
